Projeto Pedagógico Oficinas de Teatro em Inglês

domingo, 30 de setembro de 2018

Notes on the performance

I really don't care Melaine Trump

No teatro pobre o ator deve compor uma máscara orgânica por meio dos seus músculos faciais e assim cada personagem usa a mesma expressão no decorrer da peça. Enquanto o corpo inteiro se movimenta conforme as circunstâncias, a máscara se mantém numa expressão de desespero, sofrimento e indiferença. O ator multiplica-se numa espécie de ser hibrido atuando polifonicamente fora do seu papel. As diferentes partes do seu corpo são como uma rédea solta permitindo reflexos diferentes e, muitas vezes, contraditórios enquanto a língua nega não só a voz, mas também os gestos e a mímica. Todos os atores usam gestos, posições, e ritmos empregados da pantomima. Cada um tem seu perfil absolutamente definido. Isso resulta numa despersonalização dos personagens. Quando os traços individuais são retirados, os atores se transformam em estereótipos da espécie humana. Os meios de expressão verbal foram consideravelmente alargados porque todos eles são usados, começando pelo balbuciar confuso dos bebês e chegando à oratória recitada com sofisticação. Gemidos desarticulados, rugidos de animais, canções folclóricas suaves, cantos litúrgicos, dialetos e declamações de poesia. Está tudo lá. Os sons foram entrelaçados numa partitura complexa que traz a lembrança fugaz de todas as formas de linguagem. Eles estão misturados nesta nova Torre de Babel, no choque entre estrangeiros e línguas diferentes que se encontram momentos antes do extermínio. A mistura desses elementos incompatíveis, combinados com a deformação da linguagem, provoca reflexos elementares. Resquícios de sofisticação se justapõem a comportamentos animais. Recursos de expressão literalmente biológicos são associados a composições convencionais. Em Akropolis, a humanidade é forçada a passar por uma peneira muito fina de onde sua textura sai mais refinada.

  

Babel Official Trailer 2006

Jerzy Grotovski Para um teatro pobre p. 54

Towards a poor Theatre

Grotovski Institute International Theatre

A rigorosa independência dos adereços de cena é uma das principais normas do Teatro Laboratório. É absolutamente proibido acrescentar à montagem algo que não esteja lá desde o começo. A quantidade de pessoas e objetos que já se encontram no teatro deve ser suficiente para dar conta de todas as situações da peça. As chaminés e os destroços metálicos são usados como cenários e como uma metáfora concreta e tridimensional que ajuda na criação da visão. Mas a metáfora tem origem na função das chaminés. Surge de atividades que aos poucos vão sendo substituídas à medida que a ação se desenvolve. Quando os atores deixam o teatro, deixam para trás também as chaminés que forneceram uma motivação concreta para a peça. Todos os objetos têm múltiplo uso. A banheira é uma banheira absolutamente frugal, por outro lado, é também uma banheira simbólica. Uma representação de todas as banheiras em que corpos humanos foram processados para fazer sabão e couro. Ao ser emborcada, esta mesma banheira se transforma no altar, diante do qual um prisioneiro entoa uma oração. Colocada num lugar mais alto,  ela vira a cama nupcial de Jacó. Os carrinhos de mão são ferramentas de trabalho do dia a dia, mas são também carros funerários que transportam os cadáveres e, escorados contra a parede, viram o trono de Priam. Uma das chaminés é transformada pela imaginação de Jacó em uma noiva grotesca. Este mundo de objetos representa os instrumentos musicais da peça, a cacofonia monótona da morte e do sofrimento sem sentido, metal arranhando metal, batidas de martelos e canos de metal por onde ecoa a voz humana. Alguns pregos chacoalhados por um prisioneiro, evocam o sino de altar. Apenas um instrumento musical é verdadeiro, o violino. Seu tema é usado como um pano de fundo lírico e melancólico para uma cena brutal, ou como o eco rítmico dos apitos e dos comandos dos guardas. A imagem visual é quase sempre acompanhada por uma referência acústica. A quantidade de adereços é extremamente limitada e todos têm múltiplas funções. Mundos são criados a partir de objetos simples, como nas brincadeiras das crianças e nos jogos improvisados. Estamos no meio de um processo criativo onde o instinto despertado escolhe espontaneamente os instrumentos para a transformação mágica. Um homem vivo, o ator, é a força criativa por trás de tudo isso. 


Couldplay Magic Official Video

Para um teatro pobre Jerzi Grotowski p. 53.

sábado, 29 de setembro de 2018

Luz


A luz é radiação eletromagnética. A luz visível é radiação eletromagnética visível ao olho humano. Criaturas visuais, os humanos sempre conheceram a luz. Seu estudo sistemáticos remonta à Grécia antiga, mas se acelerou com o surgimento da ciência  moderna. Na década de 1860, o físico escocês James Clerk Maxwell, estabeleceu a identificação entre luz e radiação eletromagnética. Sua teoria do eletromagnetismo que unificou as forças da eletricidade e do magnetismo, foi publicada em 1865. Com base na teoria, Maxwell previu a existência da radiação eletromagnética e calculou que sua velocidade devia ser aproximadamente igual à da luz. Somente em 1873, ele publicou o Tratado de eletricidade e magnetismo, baseado em descobertas próprias e alheias. No artigo, ele postulou que o eletromagnetismo é um espectro de radiações de distintas frequências e comprimentos de onda em cujos extremos estão a luz ultravioleta e as ondas de rádio. Sua teoria foi fundamental para o trabalho de Einstein, que reconheceu sua importância para mudança de percepção da realidade nos âmbitos científico e popular. Em suas próprias palavras - Antes do eletromagnetismo, as pessoas faziam ideia da realidade física como um conjunto de pontos materiais. Depois de Maxwell, elas passaram a imagina-la como uma série de campos contínuos não explicáveis mecanicamente. 


A Journey Through the Human Eye How We See

 Bausch Lomb

Do olho ao encéfalo a mente as informações que entram nos olhos em forma de raios de luz acabam sendo interpretadas como imagens nos lobos frontais do cérebro. Pode levar menos de um quinto de seguindo para os sinais da retina serem transformados em uma percepção consciente da mente. A viagem feita pelos sinais nervosos da retina ao córtex visual na parte posterior do cérebro é apenas uma parte do modo como percebemos as imagens na mente. Para um processamento visual total, outras áreas encefálicas também precisam atuar. Inversão de campos, no quiasma óptico, os sinais nervosos do lado direito do campo visual direito passam para o lado esquerdo do encéfalo e vice-versa. Assim os dados do campo visual direito vão para o córtex visual esquerdo, onde proporcionam informações sobre distância e direção. 

1001 ideias que mudaram nossa forma de pensar.
O livro do Corpo Humano. 

Estudo da iluminação

Lighting Designer Lighting Director

Com a evolução técnica e a importância da luz como meio de expressão no espetáculo, aumentou também o interesse pelo seu conhecimento na teoria e na prática. Até a década de 1970, eram poucos os que se interessavam pelo conhecimento mais aprofundado da iluminação cênica, não obstante alguns livros específicos que haviam sido publicados em língua inglesa. Nos programas dos cursos superiores, encontros e festivais de teatro, a ênfase recaía quase sempre sobre o trabalho do ator, abordando questões de interpretações, expressão corporal, exercícios vocais e aspectos teóricos de semiologia e terias teatrais. O programa voltado para as questões técnicas, de sonoplastia e iluminação, eram mais raros e atraíam um número muito pequeno de interessados. A partir da década de 1980, o estudo da iluminação cênica passou a despertar mais interesse. Atores, bailarinos, diretores e coreógrafos começaram a investigar mais profundamente a luz, como algo diretamente vinculado aos seus processos de criação. Em pouco tempo, começaram a proliferar os cursos e oficinas com o objetivo de demonstrar os equipamentos, os diversos tipos de refletores e lâmpadas, as possibilidades de criação e os primeiros passos na construção de um design. Por essa época, aliás, o termo design já aparece de forma generalizada nas publicações em língua inglesa. O design não é a cena propriamente dita, mas algo que se cria a partir dela, inclusive com a possibilidade de modifica-la. A cor, por exemplo, é um dos modificadores. Influencia a percepção de forma, a habilidade de distinguir detalhes, além de interferir na maquiagem, no cenário e no figurino. Outras sugestões de design também alteram a impressão da cena, o uso da fumaça interfere no modo de transmissão da luz, produzindo efeitos atmosféricos que alteram as relações dos corpos no espaço. 


American Ballet Theatre Irina Dvorovenko

O que todos os livros costumam dizer, em acordo com os físicos, é que a relação entre luz e cena implica a interação física entre luz e matéria. Há diferenças entre prever o efeito da luz sobre a cena, por meio de simulações, e o resultado concreto da luz no palco, quando radiações eletromagnéticas passam a interagir com o eletromagnetismo dos corpos. A experiência não se resume apenas no envio da luz, mas na resposta dos corpos, sobretudo em termos de reflexo, absorção e refração. A iluminação elétrica chegou aos palcos acompanhada de uma mudança historicamente importante, o obscurecimento da plateia. Em 1876, Richard Wagner apaga as luzes da plateia durante a representação de suas óperas, em Bayreuth, rompendo uma tradição que vinha desde a Renascença. Em pouco tempo, outros teatros fariam o mesmo. A sala no escuro traz um envolvimento maior do espectador com a cena, reforçando a ideia de ilusão. A ribalta abre uma fronteira entre o drama e espectador, reforçando a ação restritiva do quadro cênico e contribuindo para o seu afastamento. Por outro lado o escurecimento da plateia contraria o hábito do público de ir ao teatro para se mostrar. Neste momento, o teatro deixa de ser o imenso salão da sociedade burguesa. Durante muitos séculos o teatro foi realizado à luz do sol. 


Ancient  Greek Theatre


Função Estética da Luz Roberto Gill Camargo.  

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Desenvolvimento técnicas cirurgicas para ajudar os transexuais


Androgynous

A cirurgia de redesignação sexual CRS, não é um conceito novo. Operações foram realizadas na Grécia antiga e permitidas em Roma. Também conhecida como cirurgia para mudança de sexo, a CRS refere-se a um procedimento cirúrgico em que a anatomia de um transexual é alterada, com intervenção nos órgãos genitais, para que a pessoa seja externamente o que ela é internamente. A primeira pessoa a realizar uma CRS de homem para mulher no século XX foi a alemã Lili Elbe, que provavelmente nasceu intersexual, com sistema reprodutor indefinido, nem masculino, nem feminino. No ano de 1930, em Dresden, Elbe fez uma operação para remoção dos testículos com o ginecologista alemão Dr. Kurt Warnekros. Nos dois anos seguintes, Elbe submeteu-se a mais quatro cirurgias, incluindo a remoção do pênis e o transplante de ovários e útero, mais faleceu em setembro de 1931, de complicações decorrentes do quinto procedimento cirúrgico. A CRS conforme a conhecemos hoje só começou a ser realizada com a introdução de novas drogas hormonais e o advento de novos procedimentos, entre eles a cirurgia de inversão do pênis, inaugurada pelo cirurgião plástico francês Georges Burou, na década de 1950. Os cirurgiões também começaram a construir vaginas utilizando pele retirada das nádegas do paciente. Em 1952, Cristiane Jorgensen tornou-se a primeira mulher transexual nacionalmente conhecida nos Estados Unidos, depois que o New York Dally News publicou uma matéria de capa com sua história. A manchete: Ex-Gl, soldado d Exército americano torna-se beleza loura. Na década de 1960, encontrar cirurgiões capazes de realizar uma cirurgia tão complexa e revolucionária não era fácil, fazendo com que muitos transexuais recorressem a medidas drásticas. Alguns, como Aleshia Brevard, cortaram os próprios testículos. No meio da operação, fui abandonada numa mesa da cozinha, contou Brevard mais tarde, enrolada em lenções com cheiro de desinfetante. Sentei e terminei minha castração sozinha. 


XXY Trailer Oficial Argentina 2007 Dirigido por Lucía Puenzo

Una joven hermafrodita enfrenta las dificultades de su sexualidad e de la adolesencia

Minha segunda mãe conta que ficava com muita pena por meu pai tratar Luís Antônio de forma tão diferente, talvez pela sexualidade dele, talvez por ele ser fruto do pecado. Mesmo com tudo isso, Luís Antônio era lindo, risonho e sempre feliz. Ela lembra que, num dia, numa briga com o pai, Bolota chorou muito, porque o pai não o queria na casa nova e ele foi empurrado para morar com meus avós, os ingleses. Enfim, ele não foi para a casa nova, o pai não o queria. Sua presença fazia mal para ele. Bolota fazia programas no cais do porto, nas rodovias. Ainda adolescente, foi preso algumas vezes. Bateram muito nele. Minha irmã era obrigada a levantar de madrugada e ir buscar ele na delegacia, porque ele ainda era criança. Antigamente, as pessoas achavam que se corrigia a homossexualidade ou a transexualidade com surra! Era um defeito, era uma opinião ou alguma coisa assim, que tinha que ser mudado. Era sem-vergonhice. Então, Tônio apanhava muito, muito, muito, para ser corrigido. E isso foi só agravando todo o estado dele. 

1001 ideias que mudaram nossa forma de pensar p 683.
Luis Antônio Gabriela Nelson Baskerville p. 116.

Relatório Kinsey ideias revolucionárias sobre sexualidade


Os relatórios Kinsey foram dois estudos conduzidos pelo biólogo e sexólogo americano Alfred Kinsey, 1894-1956, e outros pesquisadores, que, baseando-se em 11 mil entrevistas, exploraram a sexualidade humana, modificando significativamente as visões estabelecidas da sociedade sobre o assunto. Primeiro foi lançado Sexual Behavior in the Human Male, em 1948, e, cinco anos depois, Sexual Behavior in the Female, 1953. As descobertas de Kinsey colocaram a sexualidade humana em pauta como objeto de estudo legítimo. O objetivo de Kinsey era separar a pesquisa sobre sexo do julgamento moral, numa época em que a sexualidade tratava dos perigos da masturbação, da perversão de qualquer atividade sexual fora das normas previstas e das doenças sexualmente transmissíveis como punições para transgressões sexuais. A recusa da sociedade da época em discutir questões de caráter sexual era tão veemente que grande parte das descobertas de Kinsey pareceu estarrecedora. Algumas descobertas foram de que as mulheres também tinham sexualidade, a masturbação e a relação sexual antes do casamento eram práticas comuns e mais de um terço dos homens entrevistados teve experiências homossexuais em algum momento da vida. Os relatórios Kinsey foram revolucionários especialmente no que se refere à sexualidade feminina e à homossexualidade, uma vez que a discussão do assunto, de modo geral, ainda era considerada tabu. A abertura da sociedade ocidental a questões referentes a hábitos sexuais, sexualidade feminina,  masturbação e homossexualidade, além da capacidade de distanciar as pesquisas sobre sexualidade do viés moral judaico-cristão tradicional, deteve-se, em grande parte, à aceitação mundial do trabalho de Kinsey. 


Liam Neeson as Kinsey Trailer 2004

1001 ideias que mudaram nossa maneira de pensar p.725.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

O peixe dourado



Hoje, o mundo nos oferece novas possibilidades. Este grande vocabulário humano pode se alimentar de elementos que, no passado, jamais foram combinados. Cada raça, cada cultura pode trazer sua própria palavra para uma frase que une a humanidade. Nada é mais vital para a cultura teatral mundial do que o trabalho conjunto de artista de diferentes raças e culturas. 


Quando tradições separadas se unem, há inicialmente obstáculos. Quando, por meio do trabalho intenso, um objetivo comum é descoberto, eles desaparecem. No momento em que desaparecem, os gestos e os tons de voz de cada um torna-se arte da mesma linguagem, expressando, por um momento, uma verdade compartilhada em que a plateia está inclusa. Este é o momento para o qual todo o teatro leva. Essas formas podem ser antigas ou novas, podem ser ordinárias ou exóticas, simples ou elaboradas, sofisticadas ou ingênuas. Elas podem vir das fontes mais inesperada, podem parecer totalmente contraditórias e mesmo mutualmente excludentes. Ainda que, no lugar da unidade de estilo, arranhem-se e se atropelem, algo saudável e revelador pode surgir daí. 


O teatro não deve ser maçante. Não deve ser convencional. Deve ser inesperado. Ele nos leva à verdade por meio da surpresa, da excitação, dos jogos, do prazer. Faz o passado e o futuro serem parte do presente, afasta-se daquilo que normalmente nos envolve, e anula a distância entre nós e aquilo que normalmente está muito distante. Uma história dos jornais de hoje pode, de repente, parecer muito menos verdadeira, menos íntima do que algo de outro tempo, de outro lugar. O que conta é a verdade do momento presente, o sentimento absoluto de convicção que só pode surgir quando uma unidade enlaça o artista e a plateia. Isso se torna visível quando as formas temporais serviram a seu propósito e nos trouxeram ao instante único, incapaz de se repetir, de quando uma porta se abre e nossa visão é transformada. 


Peter Brook Não há segredos p. 77.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Contos Russos


Anton Tchekof

Cronologia Viva

Salão do Conselheiro de Estado Charamikin está mergulhado em agradável penumbra. A grande lâmpada de bronze, com seu quebra-luz verde, tinge, à maneira de uma noite de Ucrânia, as paredes, os móveis, as fisionomias. De quando em quando, na lareira expirante, uma acha, que se consome, abrasa-se e projeta por um momento sobre os rostos um clarão de incêndio. Isto, porém, não perturba a harmonia geral das luzes. O tom de conjunto, como diriam os pintores, mantém-se. Ao pé da lareira, acha-se afundado em uma poltrona, na postura de um homem que acaba de jantar, Charamikin em pessoa, senhor idoso, de suíças cinzentas de funcionário, olhos de uma azul doce. Transparece-lhe no rosto a benignidade. Um sorriso melancólico franze lhe os lábios. A seus pés, sobre um mocho, as pernas votadas pra a lareira, e estirando-se preguiçosamente, está sentado o Vice-Governador Lopnef, galharda figura de cerca de quarenta anos. Junto ao piano brincam os filhos de Charamikin, Nina, Kólia, Nádia e Vânia. Do salão da Senhora chega, pela porta entreaberta, uma luz tímida. Ali, sentada à secretária vê-se Ana Pavlovna, presidente do Comitê das damas da cidade, jovem senhora, viva e picante, dos seus trinta e mais alguma coisa. Através do Lornhão, os olhos negros e vivos deslizam pelas páginas de um romance francês. Sob o romance encontram-se, dilacerado, um relatório do Comitê, do ano anterior. - Antigamente, desse ponto de vista, diz Charanmikin piscando os olhos pacatos a claridade dos tições morrediços, nossa cidade era mais favorecida. Não se passava um inverno que não aparecesse alguma estrela. Tivemos atores e cantores célebres. E agora? Sabe o diabo o que é! A fora prestigiadores e tocadores de realejo, não vem mais ninguém. Nenhum prazer estético. Parece que vivemos no mato. Sim, lembra-se Excelência, daquele trágico italiano? Como se chamava mesmo? Um moreno alto...Queria Deus que eu me lembre! Ah! sim! Luigi Ernesto di Ruggiero. Um talento notável. Que força! Era ele abrir a boca, e o teatro em peso estremecia. A minha Anniutotchka se interessava muito pelo talento dele. Consegui lhe o teatro e vendeu bilhetes para dez espetáculos. Ele, em recompensa, lhe deu lições de declamação e de mímica. Um amor de homem! Ele esteve aqui.... não vá eu enganar-me... há doze anos...Não estou enganado...Menos apenas dez. Anniutotchka, que idade tem a nossa Nina? - Vai fazer dez anos, gritou Ana Pavlovna lá do seu escritório, Por quê? - Nada, minha filhinha, só para saber...E às vezes também vinham bons cantores... Lembra-se do tenore di grazia Priliptchin? Que amor de homem! Que aparência!... Um louro... semblante expressivo, maneiras parisienses...E que voz. Excelência! Só tinha um defeito, cantava algumas notas com o ventre e emitia o ré em falsete, no mais, tudo era bom. Dizia-se aluno de Tamberlick.... Anniutotchka e eu conseguimos para ele o salão do Círculo, e, como prova de gratidão, ele cantava em nossa casa, dias e noites... Ensinava canto a Anniutotchka...Esteve aqui, lembro-me bem pela Quaresma isto há...doze anos. Não, mais!...Que memória, santo Deus! Anniutotchka, quantos anos tem a nossa pequena Nádia? - Doze anos. - Doze...se acrescentarmos dez meses...Exatamente...Treze anos! Antigamente havia na cidade, como direi? mais vida...Vejamos, por exemplo os nossos saraus de beneficência! Que belos saraus que houve...Que encanto! Tocava-se, cantava-se, declamava-se...Depois da guerra, lembro-me bem,, houve aqui um prisioneiros turcos. Anniutotchka organizou um sarau em benefício dos feridos. Rendeu mil e cem rublos...Os oficiais turcos ficaram doidos com a voz de Anniutotchka, e levaram tempo a lhe beijar a mão...Eh!.. eh! Apesar de asiáticos, são pessoas reconhecidas, os turcos. O sarau alcançou tamanho êxito que, imagine Vossa Excelência, eu anotei no meu diário. Isto foi, se estou bem lembrado , em 76...Não... Em 77... Não! Um momento! quando foi mesmo que tivemos os turcos? Anniutotchka, quantos anos tem o nosso Kolitchka? - Eu tenho sete anos, papai, disse Kólia, garoto trigueiro, de cabelos pretos como carvão. - Sim, a gente envelhece, assenta Charamikin sorrindo. - A nossa energia já não é a mesma...Eis aí a razão de tudo...A velhice, meu caro! Faltam precursores novos, e os velhos envelheceram...Já não se tem o mesmo ardor! Quando eu era mais moço, não gostava que as pessoas se aborrecessem...Era o primeiro a ajudar a nossa Ana Pavlovna...Tratava-se de organizar um sarau de beneficência, uma tômbola, de dar apoio a uma celebridade estrangeira? Eu largava tudo, e metia mãos à obra....Um inverno, recordo-me bem, corri tanto, trabalhei tanto, que cai doente...Não posso esquecer esse inverno...Lembra-se do espetáculo que organizamos com a nossa Ana Pavlovna em benefício das vítimas do incêndio? - Em que ano foi isso? - Não faz muito tempo...Em 79. Não, creio que em 80! Um momento; que idade tem a nossa Vânia? - Cinco anos, grita Ana Pavlovna lá do seu salão. - Então foi há seis anos...Sim, o meu caro, tantas coisas... Agora já não há nada disso! O ardor já não é o mesmo. Lopnef e Charamikin meditam. A acha morrediça aviva-se pela última vez e cobre-se de cinza. 


Farinelli il castro Traile Official 1994

Contos Russos

domingo, 23 de setembro de 2018

O Teatro Elizabetano



Queen Elizabeth I

A palavra dramático tem significado natural em relação a quaisquer acontecimentos repentinos, surpreendentes, perturbadores ou violentos ou a situações e sequências de acontecimentos caracterizados por tensão. Tempestades, ressacas e enchentes e animais que perseguem e matam sua presa são dramas da natureza. Acidentes, morte repentina lutas, resgates, crimes, brigas, política, aventuras, fracassos e triunfos são dramas naturais do destino humano que conquistam diariamente espaço nas manchetes dos jornais. Habitualmente são chamados de sensacionalistas, mas indicadores do que toca os homens e desperta seu interesse, e não era por acaso que Ibsen estudava cuidadosamente os jornais diários. Diz-se comumente que o conflito faz o drama, porém surpresa e, particularmente, tensão são indícios mais verdadeiros. Embora nem sempre, ambas nascem do conflito, e o conflito só é dramático quando isso acontece. Um jogo de críquete implica conflito mas de tensão muito variável, como poderão atestar espectadores estrangeiros, ele só se torna um conflito dramático em determinados momentos, quando o ritmo se intensifica e a partida está para ser decidida. Por outro lado, o que pode haver de mais dramático do que um trem correndo a toda velocidade na direção de uma ponte quebrada? No entanto, o que existe aqui é apenas intensa expectativa e não conflito. 

 

William Shakespeare's Romeu and Juliet Trailer 1997

William Shakespeare, dramaturgo, poeta, tradutor e ator. Suas peças reinventaram o ser humano e possuem uma dinâmica e importância ímpar na história da humanidade que se refletem até hoje e além. Escrever sobre a obra dramática de Shakespeare é refletir sobre a genialidade, a autêntica originalidade e a primazia da criatividade. Produziu personagens às centenas que caminham do desespero ao êxtase, do riso ao canibalismo, com uma capacidade e maestria tão natural que todos eles nos parecem íntimos e verdadeiros. Cleópatras, Iagos, Julietas, Reis Leares, Otelos, Desdêmonas, Romeus, Bobos da Corte, Júlios Césares, Megeras Domadas, Alegres Viúvas e tantos outros todos fazem parte de nós mesmos e do universo shakesperiano. E por conseguinte da história do mundo e de todos os tempos. Frases e diálogos proferidos por suas personagens em 39 peças se tornaram se senso comum e ditos populares em todas as línguas. Criador do conceito de cena moderna, do tempo e espaço da dramática, de todos os tipos de diálogo existentes até hoje, recursos de estrutura, gêneros da comédia, tragédia até o alegórico. O conjunto de sua obra faz que este artista supremo seja estudado continuadamente até hoje. Portanto existe uma vasta bibliografia, análises e estudos sobre sua obra. Sua vida pessoal é marcada pelo mistério e pelas contradições. Em outras palavras, é bastante especulativa quanto aos reais acontecimentos de sua existência. 


King Lear Trailer 2018

Londres possuía três teatros públicos quando o jovem Shakespeare chegou à cidade em 1590. Nos subúrbios setentrionais, bem próximos um do outro, ficavam The Theater e The Curtain, e no bairro das diversões, ao sul do Tâmisa, entre as arenas de bear-baiting e bull-baiting,arena de açulamento de cães contra ursos e touros acorrentados. Os barqueiros tinham muito trabalho, quando a bandeira tremulava no telhado, indicando que nesse dia uma peça seria apresentada, uma bandeira branca para comédia, uma preta para tragédia. Em suas peças históricas, Shakespeare mergulhou na história da própria Inglaterra e posicionou-se apaixonadamente em relação aos problemas do poder e do destino. Ascensão repentina e queda abrupta, a embriaguez do poder, crime, vingança e assassinato dão vazão às imagens plenas de linguagem e, na rápida mudanças de cenas fragmentárias, culminam numa brilhante síntese. As peças de Shakespeare oferecem alimentos abundante para a transformadora capacidade da imaginação, da magia poética do Sonho de uma noite de verão à loucura de do Rei Lear na charneca tormentosa. Ele saltou por cima das regras clássicas pela força de seu gênio poético. Trouxe à vida períodos e lugares , ternura e rudeza na arena do teatro. O jovem Shakespeare irrompeu no palco elisabetano numa época em que o ator profissional já tinha uma posição segura na estrutura da sociedade. 



A Midsummer Night's Dream Trailer 1999

A arte do drama Ronald Peacock 
História mundial do teatro Margot Berthold



MERCHANDISING


Júlio Verne

Exibição sub-reptícia de marcas em contextos normalmente livres de publicidade

Surpreendentemente, talvez, dada a sua generalização no setor contemporâneo do entretenimento, o merchandising não é um fenômeno da segunda metade do século XX. A prática teve origem em fins do século XIX, quando magnatas do transporte marítimo bateram na porta do mundialmente famoso escritor francês Júlio Verne 1828-1905, para implorar-lhe que mencionasse suas empresas no seu novo romance A volta ao mundo em oitenta dias, que veio a ser publicado em 1873. Ele o faria de bom grado, por um preço. Mais do que à literatura, porém, o merchandising associou-se intensamente ao cinema e à TV. Em 1896, os irmãos cineastas franceses Lumière e o empresário suíço François-Henri Lavanchy-Clarke fizeram um acordo para promover o sabonete Sunlight no curta-metragem O desfile do oitavo batalhão. No filme, a marca do produto faz uma aparição numa carrocinha. Barras de chocolate Hershey são mencionadas em Asas, de William A. Wellman 1927, e um menino ávido por se tornar explorador é visto lendo um exemplar da National Geographic no filme A felicidade não se compra 1946, de Frank Capra. O merchandising entraria definitivamente em nossa vida, ora de maneira sutil. Steve McQueen caçando bandidos por toda São Francisco em seu Ford Mustang GT em Bullitt 1968, ora de maneira descarada, os computadores Compaq utilizados em Alien vx. predador 2204. 


Bullitt 1968 San Francisco Car Chase Scene

Em alguns casos, basta a insinuação do produto para turbinar suas vendas. Em Um golpe à italiana 2003, uma garrafa de champanhe passa de mão em mão de um grupo de ladrões que comemoram a realização de um assalto. Não se vê nem o rótulo, mas a forma da garrafa é tão característica que o público-alvo a reconhece imediatamente. O merchandising tem sido criticado por toldar a distinção entre arte e publicidade, mas sua existência não nos deveria admirar. Afinal, a televisão nunca foi puro entretenimento, seu propósito sempre foi vender coisas.


The Italian Job 2003

O merchandising da Ford em Bullitt fez tanto sucesso que ela fez edições especiais do Mustang GT do filme

1001 Ideias que mudaram nossa forma de pensar p. 540

sábado, 22 de setembro de 2018

O marido extremoso ou O pai cuidadoso


Saci Pererê Gaucho Legends 

ATO PRIMEIRO 

RÉGULO (para Remo) - Sejamos honestos quanto às mulheres! Mas, quanto ao mais, já que nos furtam, furtemos também. E assim seguimos o preceito do nosso grande Vieira,, hábil pregador, profundo político, etc., etc. 
REMO - Mas se nos roubarem as mulheres?
RÉGULO - Ah! Então esse caso é mais melindroso.
REMO - Mas diga-me,. O que havemos de fazer?
RÉGULO - Homem, isso tem seu quê... ou para quê. (Depois de longa pausa, muito apressadamente e caminhando em roda para o lado de Remo). Sabes o que mais convém? Roubar também. Se é crime, fica compensado, ficamos indenizados sem ser preciso andar com a justiça às costas. Da casa do escrivão para a do juiz, da do juiz para a do letrado, da deste pra a do meirinho, etc., etc. Justiça de Barcelos, ou de Barcelona, por exemplo. Apanho com um pau (Bate no ombro de Remo com uma bengala).
REMO - Ai! Homem! Isso não tem lugar. Bem vês que não te dei ainda paulada alguma. Que diabo de graça. E arde como sal e pimenta em ferida recente. Não! Não! Não continues com essas graças!
RÉGULO - Ó homem! De pouco te zangas! Que faria se eu te desse às deveras? Foi apenas uma pequena experiência ou um exemplo que quis dar-te, e já te mostras tão zangado! Que faria se eu te desse às deveras (Bate com mais força).
REMO - Ah! Você está teimoso! Pois eu também vou dar-lhe pancadas! Vou fazer um exemplo! (Pega em uma cadeira e dá-lhe com ela) Ai! Ai! Este exemplo valeu por todos os que acabei de dar-te. Irra! Irra! Régulo, sempre mostras que é um verdadeiro Régulo, nome que bem diz com a pessoa. 
SANCHO (Entrando) - Oh! Vocês aqui! E a jogar o pau. Eu também entro. Vamos lá! (Dá uma pancada em um), (Remo dá-lhe com a cadeira)
RÉGULO - Não vê que o jogo é só de dois? E que o senhor não foi convidado?
SANCHO - Mas eu também quis fazer minhas experiências, visto que ouvi falar em experiências, e eu gosto muito de me experimentar.
REMO - Pois V.Exa. gosta de experiências? Lá vai. (Dá-lhe outra bordoada)
Sancho- Nada! Nada! Façamos as pazes! Acabemos com às experiências de pau. Agora passemos às experiências de pensamento? Agora, espere, ainda é cedo. Eu ainda não comecei. Depois que eu começar, os senhores não me hão de quere ver acabar! (Batendo na testa com força). Sai ou não sai? Ah! Não quer sair, então há de sair do nariz (Põe os dedos e assoa com força). Lá vai um!
RÉGULO - Estás muito adiantado, mas as tuas experiências não me agradam. Vai plantar batatas, meu estúrdio (Empurrando a Sancho).
REMO - E teve a audácia de nos vir interromper, este quadrúpede!
SANCHO - Então não querem ver mais? Está bem, em tal caso, vou-me embora!
RÉGULO - Não vai daqui sem me dar-me o chapéu par apagar-nos a maçada que nos deu! (Tira-lhe o chapéu).
REMO - (Para Régulo) - Tu te contentas com o chapéu, e eu quero a bengala, que é melhor que a minha (Avança-se a ele e tira-a). Agora, seu estúrdio (Apontando para a porta da rua), suma-se já, já daqui para fora! (Da lhe um pontapé, Sancho grita, Régulo o empurra. É um barulho imenso. Mas aos socos, pontapés, empurrões e gritos, põe Sancho na rua, ficando-lhe com o chapéu e a bengala).
RÉGULO- (Para Remo, voltando ambos) - Vamos! Vamos!...Tu te arranjaste de chapéu, e eu de bengala ou eu de bengala e tu de chapéu. Fujamos cada qual por sua porta, antes que por aqui chegue a polícia. (Safam-se ambos, um por uma porta, e outro por outra. 


Boitatá Gaucho Folklore


Teatro Completo Qorpo-Santo 

African-American History



The American people in 1860 believed that they were the happiest and luckiest people in all the world, and in a way they were right. Most of them lived on farms or in very small towns, they lived better than their fathers had lived, and they knew that their children would do still better. The landscape was predominantly rural, with unending sandy roads winding leisurely across a country which was both drowsy with enjoyment of the present and vibrant with eagerness to get into the future. The average American then was in fact what he has been since only in legend, an independente small farmer, and in 1860, for the last time in American history, the procucts of the nation's farms were worth more than the output of its factories. 


This may or may not have been the end of America's golden age, but it was at least the final, hauted moment of its age of innocence. Most Americans then, difficult as the future might appear, supposed that this or something like it would go on and on, perhaps forever. Yet infinite change was beginning, and problems left unsolved too long would presently make the change explosive, so that the old landscape would be blown to bits forever, with a bewildered people left to salvage what they could. Six hundred thousand young Americans, alive when 1860 ended, would die of this explosion in the next four years. At bottom the coming change simply meant that the infinite ferment of the industrial revolution was about to work its way with a tremendously energetic and restless people who had a virgin continet to exploit. One difficultly was that two very different societies had developed in America, one in the North and the other in the South, which would adjust themselves to the industrial age in very differences between these two societies were most infernally complicated by the existence in the South of the institution of chattel slavery. Without slavery, the problems could probably have been worked out by the ordinary give-and-take of politics, with slavery, they became insoluble. So in 1861 the North and the South went to war, destroying one America and beginning the building of another which is not even yet complete. In the beginning slavery was no great problem. It has existed all across colonial America, it died out in the North simply because it did not pay, and at the turn of the century most Americans, North and South alike, consideed that eventually it would go out of existence everywhere. But in 1793 Yankee Eli Whitney had invented the cotton gin, a simple device which made it posible for textile mills to use the short-staple cotton which the Southern states could grow so abundantly, and in a very short time the whole picture changed. 



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O povo americano em 1860 acreditava que eles eram as pessoas mais felizes e mais sortudas de todo o mundo, e de certo modo estavam certos. A maioria deles vivia em fazendas ou em cidades muito pequenas, eles viviam melhor do que seus pais tinham vivido e sabiam que seus filhos ainda se sairiam melhor. A paisagem era predominantemente rural, com infinitas estradas arenosas que serpenteavam suavemente por um país que estava sonolento com o prazer do presente e vibrante com vontade de entrar no futuro. O americano médio era então, de fato, o que tem sido desde então apenas na lenda, um pequeno agricultor independente, e em 1860, pela última vez na história americana, os produtos das fazendas do país valem mais do que a produção de suas fábricas. 



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Isso pode ou não ter sido o fim da idade de ouro dos Estados Unidos, mas foi pelo menos o momento final e assombrado de sua época de inocência. A maioria dos americanos, então, por mais difícil que o futuro pudesse parecer, supunha que isso ou algo assim continuaria, talvez para sempre. No entanto, a mudança infinita estava começando, e os problemas deixados sem solução por muito tempo tornariam a mudança explosiva, de modo que a antiga paisagem seria fragmentada para sempre, com um povo desnorteado à esquerda para salvar o que pudessem. Seiscentos mil jovens americanos, vivos quando terminou o ano de 1860, morreriam dessa explosão nos próximos quatro anos. No fundo, a mudança vindoura significava simplesmente que o fermento infinito da revolução industrial estava prestes a acontecer com pessoas tremendamente enérgicas e inquietas que tinham uma continuidade virgem a explorar. 


Uma dificuldade era que duas sociedades muito diferentes haviam se desenvolvido na América, uma no norte e outra no sul, que se ajustariam à era industrial, pois as diferenças entre essas duas sociedades eram mais dificilmente inferidas pela existência no sul do país. a instituição da escravidão. Sem a escravidão, os problemas provavelmente poderiam ter sido resolvidos pelo dar e receber comum da política, com a escravidão, eles se tornaram insolúveis. Assim, em 1861, o Norte e o Sul entraram em guerra, destruindo uma América e iniciando a construção de outra que ainda não está completa. No começo, a escravidão não era um grande problema. Existiu em toda a América colonial, desapareceu no Norte simplesmente porque não pagou e, na virada do século, a maioria dos americanos, tanto do Norte como do Sul, considerou que acabaria por desaparecer em toda parte. Mas, em 1793, Yankee Eli Whitney havia inventado o descaroçador de algodão, um dispositivo simples que permitia às fábricas têxteis usar o algodão de fibra curta que os estados do sul podiam cultivar tão abundantemente, e em pouco tempo todo o quadro mudou. Naquele momento, o mundo estava desenvolvendo um apetite quase ilimitado pelo algodão, e no sul profundo enormes quantidades de algodão podiam ser levantadas a preços baixos com o trabalho escravo. 


Bruce Catton The Civil War p. 7.




O juizo final

Muitas semanas se passaram e as ondas agitadas da vida se fecharam sobre o frágil esquife de Eva. As necessidades cotidianas não respei...