Saci Pererê Gaucho Legends
ATO PRIMEIRO
RÉGULO (para Remo) - Sejamos honestos quanto às mulheres! Mas, quanto ao mais, já que nos furtam, furtemos também. E assim seguimos o preceito do nosso grande Vieira,, hábil pregador, profundo político, etc., etc.
REMO - Mas se nos roubarem as mulheres?RÉGULO - Ah! Então esse caso é mais melindroso.
REMO - Mas diga-me,. O que havemos de fazer?
RÉGULO - Homem, isso tem seu quê... ou para quê. (Depois de longa pausa, muito apressadamente e caminhando em roda para o lado de Remo). Sabes o que mais convém? Roubar também. Se é crime, fica compensado, ficamos indenizados sem ser preciso andar com a justiça às costas. Da casa do escrivão para a do juiz, da do juiz para a do letrado, da deste pra a do meirinho, etc., etc. Justiça de Barcelos, ou de Barcelona, por exemplo. Apanho com um pau (Bate no ombro de Remo com uma bengala).
REMO - Ai! Homem! Isso não tem lugar. Bem vês que não te dei ainda paulada alguma. Que diabo de graça. E arde como sal e pimenta em ferida recente. Não! Não! Não continues com essas graças!
RÉGULO - Ó homem! De pouco te zangas! Que faria se eu te desse às deveras? Foi apenas uma pequena experiência ou um exemplo que quis dar-te, e já te mostras tão zangado! Que faria se eu te desse às deveras (Bate com mais força).
REMO - Ah! Você está teimoso! Pois eu também vou dar-lhe pancadas! Vou fazer um exemplo! (Pega em uma cadeira e dá-lhe com ela) Ai! Ai! Este exemplo valeu por todos os que acabei de dar-te. Irra! Irra! Régulo, sempre mostras que é um verdadeiro Régulo, nome que bem diz com a pessoa.
SANCHO (Entrando) - Oh! Vocês aqui! E a jogar o pau. Eu também entro. Vamos lá! (Dá uma pancada em um), (Remo dá-lhe com a cadeira)
RÉGULO - Não vê que o jogo é só de dois? E que o senhor não foi convidado?
SANCHO - Mas eu também quis fazer minhas experiências, visto que ouvi falar em experiências, e eu gosto muito de me experimentar.
REMO - Pois V.Exa. gosta de experiências? Lá vai. (Dá-lhe outra bordoada)
Sancho- Nada! Nada! Façamos as pazes! Acabemos com às experiências de pau. Agora passemos às experiências de pensamento? Agora, espere, ainda é cedo. Eu ainda não comecei. Depois que eu começar, os senhores não me hão de quere ver acabar! (Batendo na testa com força). Sai ou não sai? Ah! Não quer sair, então há de sair do nariz (Põe os dedos e assoa com força). Lá vai um!
RÉGULO - Estás muito adiantado, mas as tuas experiências não me agradam. Vai plantar batatas, meu estúrdio (Empurrando a Sancho).
REMO - E teve a audácia de nos vir interromper, este quadrúpede!
SANCHO - Então não querem ver mais? Está bem, em tal caso, vou-me embora!
RÉGULO - Não vai daqui sem me dar-me o chapéu par apagar-nos a maçada que nos deu! (Tira-lhe o chapéu).
REMO - (Para Régulo) - Tu te contentas com o chapéu, e eu quero a bengala, que é melhor que a minha (Avança-se a ele e tira-a). Agora, seu estúrdio (Apontando para a porta da rua), suma-se já, já daqui para fora! (Da lhe um pontapé, Sancho grita, Régulo o empurra. É um barulho imenso. Mas aos socos, pontapés, empurrões e gritos, põe Sancho na rua, ficando-lhe com o chapéu e a bengala).
RÉGULO- (Para Remo, voltando ambos) - Vamos! Vamos!...Tu te arranjaste de chapéu, e eu de bengala ou eu de bengala e tu de chapéu. Fujamos cada qual por sua porta, antes que por aqui chegue a polícia. (Safam-se ambos, um por uma porta, e outro por outra.
Boitatá Gaucho Folklore
Teatro Completo Qorpo-Santo
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