A rigorosa independência dos adereços de cena é uma das principais normas do Teatro Laboratório. É absolutamente proibido acrescentar à montagem algo que não esteja lá desde o começo. A quantidade de pessoas e objetos que já se encontram no teatro deve ser suficiente para dar conta de todas as situações da peça. As chaminés e os destroços metálicos são usados como cenários e como uma metáfora concreta e tridimensional que ajuda na criação da visão. Mas a metáfora tem origem na função das chaminés. Surge de atividades que aos poucos vão sendo substituídas à medida que a ação se desenvolve. Quando os atores deixam o teatro, deixam para trás também as chaminés que forneceram uma motivação concreta para a peça. Todos os objetos têm múltiplo uso. A banheira é uma banheira absolutamente frugal, por outro lado, é também uma banheira simbólica. Uma representação de todas as banheiras em que corpos humanos foram processados para fazer sabão e couro. Ao ser emborcada, esta mesma banheira se transforma no altar, diante do qual um prisioneiro entoa uma oração. Colocada num lugar mais alto, ela vira a cama nupcial de Jacó. Os carrinhos de mão são ferramentas de trabalho do dia a dia, mas são também carros funerários que transportam os cadáveres e, escorados contra a parede, viram o trono de Priam. Uma das chaminés é transformada pela imaginação de Jacó em uma noiva grotesca. Este mundo de objetos representa os instrumentos musicais da peça, a cacofonia monótona da morte e do sofrimento sem sentido, metal arranhando metal, batidas de martelos e canos de metal por onde ecoa a voz humana. Alguns pregos chacoalhados por um prisioneiro, evocam o sino de altar. Apenas um instrumento musical é verdadeiro, o violino. Seu tema é usado como um pano de fundo lírico e melancólico para uma cena brutal, ou como o eco rítmico dos apitos e dos comandos dos guardas. A imagem visual é quase sempre acompanhada por uma referência acústica. A quantidade de adereços é extremamente limitada e todos têm múltiplas funções. Mundos são criados a partir de objetos simples, como nas brincadeiras das crianças e nos jogos improvisados. Estamos no meio de um processo criativo onde o instinto despertado escolhe espontaneamente os instrumentos para a transformação mágica. Um homem vivo, o ator, é a força criativa por trás de tudo isso.
Couldplay Magic Official Video
Para um teatro pobre Jerzi Grotowski p. 53.
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