Progresso e perfectibilidade. Um caso particular do progresso é a longevidade. O homem nunca viveu tanto tempo. Uma das coisas mais certas que podemos ter em mente é que, salvo suicidas e melancólicos profundos, todo mundo faz qualquer negócio para viver mais. Mesmo os que se dizem espiritualizados. Aliás, essa é uma das razões pelas quais quase 101% das pessoas colaboram com regimes assassinos. Então a história provou que a ciência estava certa que Francis Bacon tinha razão, e que, se parássemos de perguntar coisas escolásticas, inúteis, e atássemos a natureza em laboratórios, conseguiríamos inventar aviões, antibióticos e nanotecnologia. Deu certo. Como na vida real inventaram-se soluções para problemas que criam novos problemas, com a medicina moderna descobrimos que os idosos não servem para muita coisa, ainda mais quando são muitos e pobres. No mundo contemporâneo, as coisas só funcionam quando viram nicho de mercado, veja a revoução gay, fruto da publicidade norte-americana que descobriu que eles eram um nicho de gente com grana, bem preparada e sem filhos - heteros são pobres, porque tem filhos - e que, portanto, deveriam ser respeitados porque compram. Quando idosos conseguem se impor como consumidores, aí ficam bonitinhos, afora isso, só quando alguém precisar dar um toque de tradição para marca de café. Eis que a longevidade está aí. Vive-se muito, e uma das primeiras coisas que os governos têm de fazer é adiar a aposentadoria, porque ao lado da longevidade está a infertilidade das mulheres seculares, o que gera o famos problema da previdência, não tem jovem bastante para bancar tanto idoso querendo ser feliz. Afora essa questão de gestão, a longevidade cria outros traumas. Como os vínculos são cada vez mais efêmeros entre as pessoas, e a atomização é crescente, a tendência é a solidão ser a outra face da longevidade. Pessoas vejetam em suas casas, quando têm casas, ou abrem-se novas casas de repouso. Claro, existe até uma nova ciência, gerontologia.
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Nunca estivemos tão longe do valor dos idosos, ao contrário, os jovens, com sua inexperiência, arrogância e seu conhecimento de iPhone, são a referência dos mais velhos. O mais ridículo é que, ao lado da longevidade técnica alcançada, foi o apodrecimento, e não o amadurecimento, que se instalou como marca do envelhecimento no mundo contemporâneo. Não se amadurece, perde-se o prazo de validade, mesmo com saúde. Longevos correm o risco de um dia parecerem um bando de zumbis, sem lugar num mundo em que, ao mesmo tempo que você pode viver noventa anos com alguma saúde, você já começa a envelhecer aos 25, desesperado por causa do colesterol, da estría e das rugas.
Luiz Felipe Pondé Filosofia para corajosos p. 183.
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