Um dos grandes perigos que rondam a teoria educacional é perder a capacidade de criar suas próprias idéias. Talvez, por isso, ela se agarre tanto a idéias preestabelecidas, que lhe emprestam um saibo moral de unificação ou um gosto religioso de totalidade. Qualquer variação conceitual desafia e elimina as opiniões preexistentes, para encontrar formas de novo na Educação. Formas que, nesta filosofia do inferno, respiraram uma atmosfera de estranheza, rasgaram o desconhecido do firmamento, mergulharam no caos diabólico e daí trouxeram variações sobre a infersfera. Criar conceitos, traçar um plano, inventar personagens conceituais são atos filosóficos que podem ser feitos por qualquer pensamento, até por uma filosofia do céu na Educação. Um desses pensamentos não será melhor do que outro, ou mais plenamente pensado. Eles serão distintos, heterogêneos, não-assimiláveis, sem síntese , identificação, superação. Embora possam deslizar, passar um pelos outros, cruzar-se, ter suas extensões ocupadas por outros personagens, apelar a conceitos que restam por criar em outrros pensamentos. Nenhum modo de pensar a Educação é sagrado ou profano, verdadeiro ou falso, nobre ou vulgar, rico ou indigente. Um pensador não pode provar, comparar, medir, decidir que o seu modo de pensar é melhor do que os modos que constroem outros conceitos, planos e personagens. Os critérios para tal comprovação não são senão imanentes, diante de conceitos ainda indeterminados, personagens ainda no limbo, planos ainda transparentes. Qualquer pensamento é avaliado pelos movimentos que traça, fluxos que cria, multiplicidades complexas que infinitiza. Só pode ser condenado aquele pensamento que não experimenta, não prolonga, não desterritorializa, não foge, não se relaciona com problemas de fora, não abala a confiança na arbitrariedade da língua, nem vive a gagueira e bilinguismo dentro da própria linguagem. Do que lhe toca, a filosofia do inferno busca dar o que pensar ao pensamento da Educação. Modificar o que significa pensar o inversossímel. Reunir à força coisas distintas. Alhear significados existentes. Agitar devires de idéias. Liberar riachos e canais de conceitos, onde pululam mais seres maravilhosos do que no fundo dos oceanos. Programar meios de orientação, para conduzir experimentações nas práticas de pesquisa educacional. Inventar possibilidade de existir como pesquisador, para se tornar sempre outra coisa, que ultrapassa todas as previsões. Os pesquisadores do inferno na Educação não estão no inferno. Dão vida aos conceitos sobre a infesfera. Não são infernais. Tornam-se, à medida que investigam e pensam o pensamento infernal. Não se deixam representar pelos infernais. São invólucros e pseudônimos dos personagens que criam. O destino de cada pesquisador é tranformar-se em seu infernal. Assim, poderá retornar do mundo das idéias, opiniões, coisas e sujeitos mortos, como um vencedor. Vencedor que indica não algo nem alguém que ultrapassa suas possibilidades, mas um agente de enunciação da filosofia do inferno. A questão não será o que um infenal desses pode ou não fazer no pensamento da Educação, mas a maneira pela qual é perfeitamente positivo e produtivo como pesquisador do inferno, mesmo no que não sabe ou não pode pensar.
Sandra Mara Corazza Para uma Filosofia do Inferno na Educação Editora Autêntica p. 95.
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