Um número grande e crescente de demandas, às vezes estranhas, por outras bizzaras, tem chegado a nós, profissionais do teatro. O teatro como ferramenta de libertação dos corpos tolhidos pela mecanização do cotidiano, como instrumento de conscientização, como modelo de vivência grupal, como forma de integração dos indivídos numa vida mais regrada e adaptada, como garantia de acesso aos bens culturais de um povo, eis algumas das funções que a atividade teatral tem cumprido em diferentes lugares, em diversos discursos e em variados projetos de libertação do homem. Assim ONGs, projetos governamentais, escolas formais e informais, empresas, programas contínuos ou ações isoladas, como também um sem número de atividades, têm usado o teatro, suas práticas, como forma de melhorar a vida. Eis a promessa do discurso teatral, a sua prática, a do teatro, ofereceria um caminho para uma humanização do homem, para uma adpatação dos menos ajustados, para uma melhoria de vida, não pelo acúmulo de bens materiais, mas pela constituição de valores eticamente aceitos por uma determinada comunidade. Na perspectiva dessa humanização, o espetáculo tem função coadjuvante. Assim, a prática da oficina, o processo, o desenvolvimento de exercícios que comumente os atores profissionais utilizam em seu processo criativo, tomam uma importância superlativa. É o processo de preparação do espetáculo que prometeria transformar seus participantes, mais do que aqueles que assistem. Nessa concepção, o teatro passou a ser, então, uma espécie de cuidado de sí, uma maneira de melhor viver, de cuidadar do seu íntimo, de conferir atenção ao eu, ao corpo, ao pensamento e à realidade. No entanto, não é na apreciação estética que essa promessa se faz presente, mas na situação pedagógica, na relação de um professor/diretor com alunos/atores. O espetáculo, por sua vez, é momento de coroação de um processo de transformação e, de certa forma, o público assiste o resultado dessa transformação. Acabamento estético, configuração plástica, disposição dramática e outros aspectos de relevância artística podem ser superados em nome de um regime de visibilidade no qual o mais importane é mostrar, ou enfatizar, em alguns casos, a transformação a qual os sujeitos envolvidos foram protagonistas. A situação pedagógica passa a ser, assim, lócus privilegiado da transformação do humano, foco de atenção e urgência no discurso da educação. A importância do teatro para a criança, para a terceira idade, para a melhoria de operários e empresários, para crianças de rua ou para a escola está presente nos propósitos e no projeto discursivo de muitas instituições. Tantas vezes plocamada, a importância do teatro consegue ser ouvida e lida nos mais diversos falantes, inscrita na materialidade de projetos pedagógicos, divulgada em campanhas sociais, repetida por diretores e coordenadores pedagógicos de escolas e similares, ainda que eles próprios não frequentem o teatro e não tenham experimentado uma oficina lúdica para-teatral sequer.
Pedagogia Teatral como cuidado de si Gilberto Icle Editora HUCITEC p. 23.
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