Projeto Pedagógico Oficinas de Teatro em Inglês

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O Nascimento


Diego Velázquez 1629 165 x 225 Museo del El Prado

Rindo, chorando, vibrando de entusiasmo ou sofrendo o impacto do terror, os cidadões comprimiam-se na praça do velho mecado de Atenas, a mais importante cidade-Estado da Grécia no século VI a.C. Contra a vontade de Sólon, tirano e legislador eficaz mas nem sempre dedicado às sutilezas da sensibilidade, o povo preferiu acreditar em cada gesto de Téspis, um homem estranho, que ousava imitar os deuses e os homens. Grossa túnica nos ombros e tosca máscara sobre o rosto, Téspis desceu solene e grave os degraus do altar que improvisara sobre uma carroça. E sem esperar que os circundantes se refizessem do inesperado afirmou - Eu sou Dionisio. Foi um sacrílego e surpreendente momento das festas que a tradição reservava ao deus da alegria. Foi também o instante em que, pela primeira vez, um obscuro e arrogante grego se fez aceitar como deus de carne e osso pelos atenienses do mercado. E foi o começo de uma aventura espiritual que atravessaria os séculos, mesclando, à imagem do próprio homem, verdade e fantasia, riso e lágriamas, o nascimento do Teatro.  Pouco teriam adiantado as ordens oficiais proibindo o desempenho de Téspis e relacionando seu histrionismo à imposutura. Intuitivamente, Téspis conquistara um público, enquanto Sólon perdera uma excelente oportunidade de se mostrar simpático aos cidadões. Isso seria privilégio de outros tiranos e, no século seguinte, dos governantes da democracia grega, sempre dispostos a organizar concursos e a premiar quem melhor falasse a sua linguagem e distraísse a multidão. 

Sábato Magaldi Teatro Vivo Introdução e história p. 12.

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