Peter Brook
Há um momento em que não se pode continuar dizendo não. No decorrer dos anos, quando as pessoas me perguntavam - Podemos vir e assistir a um de seus ensaios?, eu respondia - Não. Sinto-me compelido a fazer isso por causa de certas experiências negativas. Bem no começo, eu deixava que visitantes viessem aos ensaios. Permiti que um quieto e modesto estudante se sentasse discretamente no fundo do auditório durante os ensaios de uma peça de Shakespeare Ele não era um problema, mal notei sua existência até o dia em que encontrei no bar de um pub local explicando aos atores como eles deveriam atuar suas cenas. Apesar dessa experiência, alguns anos mais tarde, permiti a um autor respeitável observar o processo, uma vez que me convencera de que isso seria importante para sua própria pesquisa. Minha única condição era a de que ele não publicasse nada sobre o que testemunhou. Apesar de sua promessa, surgiu um livro repleto de impressões inexatas, traindo o essencial laço de confiança que é a base para que ator e diretor trabalherm juntos. Mais tarde, quando eu estava apresentando uma peça pela primeira vez na França, descobri que era bastante normal que o proprietário do teatro viesse ao espetáculo com seus amigos ricos, em casacos de pele e joias, e conversassem animadamente, observando essas estranhas e engraçadas criaturas chamadas atores, não hesitando em fazer comentários barulhentos e frequentemente sarcásticos sobre o que viram.
William Nadyla, Rikki Henry, Nonhlanhla Kheswa in Adelaide for the Australian premiere of Peter Brook's production of The Suit
Nunca mais! jurei. E, com o passar dos anos, cada vez mais vejo quão importante é para os atores que são naturalmente medrosos e hipersensíveis, saberem que estão totalmente protegidos pelo silêncio, intimidade e privacidade.Quando se tem essa segurança, é possível a cada dia experimentar, errar, ser todo, ter a certeza de que fora dessas quatro paredes ninguém jamais saberá, e a partir desse ponto se começa a encontrar força que o ajuda a se abrir, tanto para si mesmo quanto para os outros. Percebi que a presença até mesmo de uma única pessoa em algum lugar no escuro atrás de mim é uma distração contínua e fonte de tensão. Um observador pode até ser uma tentação para que o diretor se exiba, intervenha onde deveria ficar calado, por medo de parecer ineficiente, desapontando assim o visitante. Essa é a razão pela qual tenho sempre negado os constantes pedidos para se observar nosso trabalho. Embora eu entenda o quanto as pessoas querem saber o que acontece lá, o que nós realmente fazemos...
Não há segredos reflexões sobre atuação e teatro Peter Brook p. 79,80.
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