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terça-feira, 16 de outubro de 2018

Imagens e objetos reais


House-shrine New Kingdom, Dynasty 18, ca. 1340 BC Limestone Amarna Height 32,5 cm Egyptian Museum Berlin

Na pintura e na escultura, no drama, na narrativa e na poesia descritiva, estamos acostumados a encontar representações do mundo exterior. Ao mesmo tempo, temos consciência de que nossa apreensão dessas imagens de arte não é o mesmo que vermos o mundo real a nossa frente. Quando observamos um homem e seu retrato, vemos duas coisas diferentes. Um é um objeto vivo, que se move, e outro é uma imagem afixada por tintas a uma tela. Mas as aparências da natureza podem ser tão fielmente captadas na arte que reconhecemos a semelhança e falamos então de representação. O que se aplica aos retratos e também válido para quadros de paisagem de interiores e de cenas. Os processos envolvidos em ver-se uma pessoa ou uma cena no original e sua representação e em reconhecer-se a semelhança entre eles são extraordinariamente complexos. Para compreendê-los basta que nos lembremos de que há muitas maneiras de se alcançar, com tintas, a semelhança de uma mesma cena e de se retratar o mesmo modelo, todas elas verdadeiras e semelhantes. Haverá mais clareza se, nos concetrarmos nas artes visuais, já que o problema de representção aparece nelas em sua forma mais gritante e também porque drama, implica representação de pessoas e do ambiente. O que queremos dizer com quando falamos da aparência real de uma coisa? É possível reproduzir isso num desenho? E tal desenho é arte? Para terrmos um ponto de referência, usaremos a noção de realismo ingênuo, pressupondo um mundo de senso comum em virtude do qual poderemos falar de várias visões ou interpretações das coisas observadas. Se duas pessoas sentam-se num parque, verão diante de si objetos, um grupo de árvores, um arbusto, um lago, gramados, canteiros, idosos sentados em bancos, moças empurrando carrinhos de bebês, meninos jogando bola, casa com vista pra o parque e assim por diante. Eles podem falar a respito dessas coisas e compreender as referências de cada um. E se selecioassem uma casa e a desenhasem de onde estão sentadas, seus desenhos, dado um mínimo de habilidade, provavelmente teriam algo em comum, como contorno, cor e distribuição de portas, de janelas e de telhado. Esse conteúdo de percepção comum denota o mundo exterior a respeito do qual há acordo. Fora do conteúdo comum há elementos variáveis, pelo fato de cada um de nós ver as coisas de forma diferente, cada um percebendo algumas em detrimento de outras, sendo alguns mais sensíveis à forma, outros à cor e assim por diante. 


Este mundo acordado da pecepção comum é de certa forma um mundo seguro, é reconfortante sentir que parque, gramados, lago, árvores e casas estão solidamente ali e não fugirão. Mas, por outro lado, e do ponto de vista visual, ele também é um mundo impreciso, já que está sempre mudando com com a hora do dia, a atmosfera, as estações e os anos e já que duas pessoas, mesmo simultaneamente, nunca observam uma cena visual idêntica, tampouco, necessariamente a examinam ou a absorvem. Isso é o que dificulta a questão sobre a aparência real das coisas. Naturalmente, o que de fato vemos é uma quantidade de objetos aproximadamente percebidos ou visualizados. Por outro lado, quando procuramos discubrir a aparência real das coisas, interrompemos o que estamos fazendo para buscar um objetivo especial. Embarcamos numa indagação e surpreendemo-nos a olhar mais precisamente, a focalizar nossa atenção, a considerar e pensar e, de fato, a proceder a um exame. E tal exame pode nos levar, pela análise, à precisão conceptual e científia, ou, pelas imagens, à precisão estética. A primeira leva a um mundo público de conhecimento científico, enquanto a segunda permanece como uma experiência pessoa e individual. 

A arte do Drama Ronald Peacock p. 17. 

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