Stella Adller was an American actress and acting teacher. She founded the Stella Adler Studio of Acting in New York City in 1949
Santo Deus, que modo de falar! - Inclinei-me bastante por sobre a ribalta, tentando fisgar a atenção de Tórtsov. Que falta de controle! - Verme imundo! Tórtsov agora estava quase aos berros. - Muito bem, muito bem, beníssimo! - Com alegria agora eu forçava minhas insinuações, sem trégua. - Não se pode limpar com a mão uma sanguessuaga. Onde há uma sanguessuga há um lago... e nos lagos, mais sanguessugas...Não se pode livrar delas...nem de mim...- Depois de hesitar um momento, Tórtsov, de súbito, curvou-se sobre a ribalta e abraçou-me afetuosamente. - Bom trabalho, rapaz! Notando que o manchara com a maquiagem que me escorria pelo rosto, acrescentei. - Cuidado com o que está fazendo! Agora é que não pode mesmo me limpar com a mão! Os outros acorreram para reparar o estrago mas eu ficara tão extasiado com essa marca da aprovação do diretor, que dei um pulo, fiz algumas cabriolas e depois, no clamor do aplauso geral, corri para fora de cena com o meu andar normal. Voltando-me vi Tórtsov, de lenço na mão, parar de limpar a maquiagem o bastante para olhar-me ao longe com admiração. Eu estava deveras feliz. Mas não era uma satisfação comum. Era alegria que brotava diretamente da realização artística, criadora. Indo para casa, surpreendi-me a repetir os gestos e o andar da personagem cuja imagem eu criara. Mas não foi só isso. Durante o jantar, com minha senhoria e outros hóspedes, mostrei-me capcioso, desdenhoso e irritável, diferente de mim mas muito parecido com o meu crítico implicante. Até a senhoria o notou. - O que é que você tem hoje? Observou. - Não está um pouco prepotente? Fiquei maravilhado. Alegrava-me porque, compreendia como viver a vida de outra pessoa, e o que significa embeber-me numa caracterização. Isso é um recurso importantíssimo para o ator. Enquanto tomava banho lembrei-me de que representava o papel do crítico ainda assim não perdia a sensação de que era eu mesmo. Concluí que isso era porque, enquanto representava, eu sentia um prazer imenso em acompanhar a minha transformação. De fato era o meu próprio observador ao mesmo tempo que outra parte de mim estava sendo uma criatura crítica, censuradora. Mas posso acaso afirmar que essa criatura não faz parte de mim? Derivei-a da minha própria natureza. Dividi-me, por assim dizer, em duas personalidades. Uma, permanecia ator, a outra, era um observador. Por mais estranho que pareça, essa dualidade não só não impedia, mas até promovia meu trabalho criador. Estimulava-o e lhe dava ímpeto.
A construção da personagem Constantin Stanislavski p. 47.
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