Projeto Pedagógico Oficinas de Teatro em Inglês

domingo, 14 de outubro de 2018

A construção da personagem

Stella Adller was an American actress and acting teacher. She founded the Stella Adler Studio of Acting in New York City in 1949

Santo Deus, que modo de falar! - Inclinei-me bastante por sobre a ribalta, tentando fisgar a atenção de Tórtsov. Que falta de controle! - Verme imundo! Tórtsov agora estava quase aos berros. - Muito bem, muito bem, beníssimo! - Com alegria agora eu forçava minhas insinuações, sem trégua. - Não se pode limpar com a mão uma sanguessuaga. Onde há uma sanguessuga há um lago... e nos lagos, mais sanguessugas...Não se pode livrar delas...nem de mim...- Depois de hesitar um momento, Tórtsov, de súbito, curvou-se sobre a ribalta e abraçou-me afetuosamente. - Bom trabalho, rapaz! Notando que o manchara com a maquiagem que me escorria pelo rosto, acrescentei. - Cuidado com o que está fazendo! Agora é que não pode mesmo me limpar com a mão! Os outros acorreram para reparar o estrago mas eu ficara tão extasiado com essa marca da aprovação do diretor, que dei um pulo, fiz algumas cabriolas e depois, no clamor do aplauso geral, corri para fora de cena com o meu andar normal. Voltando-me vi Tórtsov, de lenço na mão, parar de limpar a maquiagem o bastante para olhar-me ao longe com admiração. Eu estava deveras feliz. Mas não era uma satisfação comum. Era alegria que brotava diretamente da realização artística, criadora. Indo para casa, surpreendi-me a repetir os gestos e o andar da personagem cuja imagem eu criara. Mas não foi só isso. Durante o jantar, com minha senhoria e outros hóspedes, mostrei-me capcioso, desdenhoso e irritável, diferente de mim mas muito parecido com o meu crítico implicante. Até a senhoria o notou. - O que é que você tem hoje? Observou. - Não está um pouco prepotente? Fiquei maravilhado. Alegrava-me porque, compreendia como viver a vida de outra pessoa, e o que significa embeber-me numa caracterização. Isso é um recurso importantíssimo para o ator. Enquanto tomava banho lembrei-me de que representava o papel do crítico ainda assim não perdia a sensação de que era eu mesmo. Concluí que isso era porque, enquanto representava, eu sentia um prazer imenso em acompanhar a minha transformação. De fato era o meu próprio observador ao mesmo tempo que outra parte de mim estava sendo uma criatura crítica, censuradora. Mas posso acaso afirmar que essa criatura não faz parte de mim? Derivei-a da minha própria natureza. Dividi-me, por assim dizer, em duas personalidades. Uma, permanecia ator, a outra, era um observador. Por mais estranho que pareça, essa dualidade não só não impedia, mas até promovia meu trabalho criador. Estimulava-o e lhe dava ímpeto. 

A construção da personagem Constantin Stanislavski p. 47.

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