Lincoln Plaza Cinemas in New York
No dia 5 de novembro estou em Nova York, cidade que amo desde 1973, mas que me assusta um pouco nesse fianal de 1990. A cidade nunca foi muito limpa, mas agora está mais suja ainda. No metrô as pessoas não se olham, ninguém se sorri. Os oslhos estão perdidos num infinito estranho. Nos teatros, a criatividade desse grande espetáculo que era a coméida musical americana parece ter acabado. Assisti a um espetáculo com o teatro cheio, mas o público estava meio dormindo. Vi pessoas cochilando. Faltam estrelas na Broadway, sem dúvida alguma. Alguns musicais carecem de prezença mais elétricas. Onde estão Gertrude Lawrence, Mary Martin, Helen Hayes, Enzo Pinza, Carol Channing, Barbara Streisand, Gwen Verdon, Ben Vereen, Julie Andrews, Gregory Hinnes, Ethel Merman etc. etc.? Nos elencos, todos são competentes, dançam, cantam à perfeição, representam num estilo altamente cnvencional, profissional. Mas onde está aquele a mais que faz do artista por si mesmo um espetáculo? O brilho pessoal prende a atenção do público e faz do ator um verdadeiro comunicador. Fui ao cinema Lincoln Plaza ver The Nasty Girl, de Michael Verhoeven, bom filme que no Brasil se chamou Uma cidade sem pecado. A sessão das 15h tinha 95% de gente muito idosa. Eu,com meus 67, era a criança da turma. O conjunto, sem maldade, parecia um museu de cera. Todos levemente sorridentes, pisando leve, quase se arrastando, num caminhar que me lembrou a maneira de andar dos mortos-vivos de Romero, os monstros de todos os filmes de terror, lentos mas inexoráveis para alcaçar seu objetivo. Os velinhos adoram Nova York. Lembro uma senhora que me disse um dia no Gershwin Teatre quando assistíamos lado a lado a Porgy and Bess, em 1976. - Essa cidade é terrível, é perigosa, mata-se por dez dólares, mas eu adoro, não saio daqui de jeito algum. A Broadway, os cinemas e os museus oferecem possobilidades culturais compensadoras para o público idoso.
The Nasty Girl German: Das schreckliche Mädchen is a 1990 West German drama film based on the true story of Anna Rosmus.
Almoço em Nova York, com um jovem brasileiro que veio estudar teatro aqui. Ele me conta sua luta, trabalhou num curso com Stella Adler e, para viver, se vira como modelo, professor de ginástica, faz comerciais. Stella, aos 89 anos, se afastou de tudo, pedindo arrego, paz. Nosso amigo continua estudando sério. Durante a conversa percebo certo sotaque no seu português. Lógio, ele passou os últimos anos melhorando a dicção do seu inglês. Como vai ser depois? A prosódia certa volta? Pareceu-me inteligente nesse primeiro contato, quase bonito, antes de tudo firme, determinado. Penso o que vai ser dele no futuro. Conheço exemplos aos montes de pessoas que percorreram o mesmo caminho e não chegaram a lugar algum ...
Sérgio Britto O palco dos outros p. 198.
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