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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

As Flores do Mal

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O poeta e crítico francês Charles Boudelaire marcou as últimas décadas do século XIX, influenciando a poesia internacional de tendência simbolista. De sua maneira de ser, originaram-se na França os Poetas Malditos. Baudelaire inventou uma nova estratégia de linguagem, incorporando a matéria da realidade grotesca à linguagem sublimada do Romantismo, dando base para a criação da poesia moderna. As flores do mal é sua obra-prima, cujos poemas datam de 1841. Julgado imoral em sua época, o livro levantou polêmica e despertou hostilidades na imprensa. Baudelaire e seu editor foram processados e, além de pagar multa, tiveram de reimprimir a obra excluindo poemas da primeira edição. (Ed. Matin Claret)

Charles Boudelaire

Ao leitor

A estultícia, o engano, o pecado, a avareza. Ocupam-nos a mente e os nossos corpos minam. E remorsos amáveis nosso corpo animam. Como o mendigo ao verme que ele tanto preza. Nossos pecados são duros, tíbio o pesar. Vendemos a alto preço as nossas confissões. E voltamos com gozo aos barrentos rincões. Com vis prantos achando as nódoas apagar. Do mal no travesseiro é Satã Trismegisto. Que embala lentamente a nossa alma encantada. E o tão rico metal da vontade enleada. Faz-se vapor na mão desse sábio alquimista. O Demo é quem segura o fio que nos guia! Achamos sedução nas coisas mais nojentas. Sem horror, através das trevas fedorentas. Pro Inferno um passo a mais nos leva a cada dia. Qual pobre garanhão que devora na transa, de alguma velha puta o seio dolorido. Queremos de passagem prazer escondido. Que esprememos tal qual bagaço de laranja. Cerrado, a formigar como um milhão de helmintos. Um povo de Demônios folga em nossa mente. E a Morte, ao respirarmos, no pulmão, fremente. Desce, invisível rio, em queixume indistinto. Se o estupro, o incêndio, o veneno, o punhal. Não lhes bordaram inda em desenhos risonhos. O rascunho banal de seus fados tristonhos. É que nossa alma, é pena, a isso se presta mal. Mas em meio às cadelas, onças, e chacais. Macacos, escorpiões, gaviões e serpentes. Os monstros a ganir, rosnar, pelo chão rentes. Na fauna infame e vil dos vícios ancestrais. Existe um mais feio, e maldoso, e imundo! Embora sem fazer grandes gestos, gritar. É capaz de em frangalho a terra transformar. E num só bocejar engoliria o mundo. É o tédio! Carregando o olhar de pranto vão. Ao fumar seu cachimbo em sonhos mergulhado. Tu conheces, leitor, tal monstro delicado. - Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão. 


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As Flores do Mal Charles Boudelaire p. 23.

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