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terça-feira, 16 de outubro de 2018

À procura da verdade


O pensamento não é um meio de conhecer, mas de designar os fatos, de ordená-los, de fazê-los manuseáveis, isto é o que pensamos hoje acerca do pensamento, amanhã talvez pensemos diferente. De onde provém o sentimento da verdade? Em primeiro lugar não tememos discrepar de nós mesmos, em segundo lugar, aumenta nosso sentimento de força também contra nós mesmos. Uma folha seca, no outono é uma verdade, mas uma mentira na primavera. A verdade do lobo, não é a verdade dos homens, nem a dos pássaros e das rãs, a concepção ontológica não cabe aqui ser discutida. Estamos vivendo um momento tão dialético, tão trágico, tão perspectivista, tão histórico da filosofia, que só histórica perspectiva, trágica e dialeticamente podemos compreender o mundo. E nossa maneira de interpretar também é histórica, e não poderia rogar-se o atributo divino da perpetuidade. Os velhos temas voltarão mais uma vez, e assistiremos a uma era em que todos os temas conquistarão atualidade. Aceitando por hipóse que desejamos a verdade, por que não melhor a mentira, ou a incerteza ou a ignorância? Apresentou-se-nos o problema do valor da verdade, ou fomos nós em sua busca? Que parte de nós é Édipo e que parte é Esfinge? Isto é um enunciado de interrogações. E, no entanto, quem acreditaria. Parece-nos que até o presente não foi se quer proposto o problema, e que apenas o hajamos percebido, pesado e confrontado. E em confrontá-lo há um grande perigo, e requer audácia, talvez a maior de todas. Como uma coisa poderia ter sua origem em seu contrário? Por exemplo, a verdade no erro? A vontade do verdadeiro na vontade do falso? A ação desinteressada no egoísmo? A contemplação ascética pura e radiante do sábio, no pântano da concupiscência? Coisas tão supremas, tão empolgantes, não poderiam deixar de ter uma origem própria. Como extrair de um mundo miserável um lugar provisório por onde os homens passam para sofrer e purgar-se? Partido de uma fé, atingiriam o que eles chamam verdade! A crença fundamental do metafísico e a crença da oposição dos valores. Aceita-se a contradição, não a oposição. Não há na natureza contrários, há contradições. Essas se completam. Assim, a verdade em si não existe, porque nunca existe a coisa em si. Também não existe o erro em si, independente da verdade. Onde há erro, há verdade. Exclama.

Friedrich Nietzshe Vontade de Potência p. 80.

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