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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

West Africa Culture


O termo yorùbá, escreve S. O. Biobaku, aplica-se a um grupo linguístico de vários milhões de indivíduos. Ele acrescenta que, além da linguagem comum, os yorùbá estão unidos por uma mesma cultura e tradições de sua origem comum, na cidade de Ifé, mas não parece que tenham jamais construído uma única entidade política e também é duvido que, antes do século XIX, eles se chamassem uns aos outros por um ou mesmo nome. Leo Frobebenius é o primeiro a declarar, em 1910, que a religião dos iorubas tal como se apresenta atualmente só gradativamente tornou-se homogênea. Sua uniformidade  é o resultado de adaptações e amálgamas progressivos de crenças vindas de várias direções. Atualmente, setenta anos depois, ainda não há, em todos os pontos do território chamado Iorubá, um panteão dos orixás bem hierarquizado, único e idêntico. As variações locais demonstram que certos orixás, que ocupam uma posição dominante em alguns lugares, estão totalmente ausentes em outros. O culto de Xangô, que ocupa o primeiro lugar em Oyó, é inexistente em Ifé, onde um deus local, Oramfé, está em seu lugar com o poder do Trovão. A religião dos orixás está ligada à noção de família. A família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria, em princípio, um ancestral divinizado, que em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o trovão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização. O poder àse, do ancestral-orixá teria, após a sua morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes durante um fenômeno de possessão por ele provocado. O orixá é uma força pura, àse imaterial que só se torna perceptível aos seres humanos incorporando-se em um deles. Esse ser escolhido pelo orixá, um de seus descendentes, é chamado de elégùn, aquele que tem o privilégio de ser montado, gun, por ele. Torna-se o veículo que permite ao orixá voltar à terra para saudar e receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram. 


 A presença dessas religiões africanas no Novo Mundo é uma consequência imprevista do tráfico de escravos. Escravos estes que foram trazidos para os diferentes países das Américas e das Antilhas, provenientes de regiões da África escalonadas de maneira descontínua, ao long das costa ocidental, entre Senegâmbia e Angola. Provenientes, também da costa oriental de Moçambique e da Ilha de São Lourenço, nome dado nessa época a Madagascar. Disso resultou, no Novo Mundo, uma multidão de cativos que não falava a mesma língua, possuindo hábitos de vida diferentes e religiões distintas. Em comum, não tinham senão a infelicidade de estar, todos eles, reduzidos à escravidão, longe das suas terras de origem.



Roots ABC American Television

A cena foi minuciosamente descrita por centenas de observadores. Quanto mais são os depoimentos cotejados, mais difícil é crer que tamanhos horrores possam ter se prolongado por três séculos, e que tantos sobrenomes famosos tenham seu fausto e suas glórias vinculados a tantas desgraças. Mas assim foi, e teria sido por muito mais tempo se, por circunstâncias meramente econômicas, a escravidão não deixa-se de ser um negócio tão lucrativo. Castro Alves compôs versos repletos de fulgor e fúria. Rugendas usou tons sombrios e um ângulo surpreendente para criar um retrato alegórico. Ainda assim, ambos, poeta e ilustrador, talvez tenham transmitido uma versão branda do espetáculo hediondo que de fato se desenrolava no porão dos navios negreiros, apropriadamente chamados de tumbeiros. Os registros escritos por observadores, a maioria deles britânicos, revelam um quadro ainda mais assustador do que aquele que as rimas e as tintas puderam pintar. Um único exemplo. Em 1841, a belonave inglesa Fawn capturou, na costa brasileira, o navio Dois de Fevereiro. Desde 7 de novembro de 1831, o tráfico era ilegal no Brasil e navios de guerra britânicos patrulhavam o litoral. Após a apreensão do tumbeiro, o capitão do Fawn, anotou, no diário de bordo, a cena com a qual se deparou nos porões da embarcação. 


Os vivos, os moribundos e os mortos amontoados numa única massa. Alguns desafortunados no mais lamentável estado de varíola, doentes com oftalmia, alguns completamente cegos. Outros esqueletos vivos, arrastando-se com dificuldade, incapazes de suportarem o peso de seus corpos miseráveis. Mães com crianças pequenas penduradas em seus peitos, incapazes de darem a elas uma gota de alimento. Como os tinham trazido até aquele ponto era surpreendente. Todos estavam completamente nus. Seus membros tinham escoriações por estarem deitados sobre o assoalho durante tanto tempo. No compartimento inferior o mal cheiro era insuportável. Parecia inacreditável que seres humanos sobrevivessem naquela atmosfera. Na verdade, um em cada cinco escravos embarcados na África não sobrevivia a viagem ao Brasil, constituíam mercadoria literalmente perecível. Os demais não viviam mais do que sete anos, em média. Mas eram baratos e substituíveis. Havia muitos outros no lugar de onde tinham vindo aqueles. Esta é uma nação erguida por 6 milhões de braços escravos, e sobre 3 milhões de cadáveres.



Embora a escravidão seja tão velha quanto a própria humanidade, jamais o tráfico de escravo for um negócio tão organizado, permanente e vultoso quanto se tornou depois que os portugueses estabeleceram em meados do século XVI, uma vasta rota triangular que uniu a Europa, a África e a América e transformou milhões de africanos em lucrativas moedas de troca. Manufaturas Europeias eram levados para a Guiné e cambiadas por escravos em entrepostos costeiros. Os mesmos navios partiam em seguida conduzindo em seus porões aldeias inteiras para trabalhar até a morte nas plantações do Brasil. Uma vez no Novo Mundo, esses escravos em geral não eram vendidos mas trocados por açúcar, revendido, a seguir com grande lucro na Europa. A fórmula logo pode incluir a Ásia, já que os panos coloridos feitos em Goa, na Índia, passaram a ser oferecida nas feitorias da Guiné. Mas o pioneirismo lusitano foi logo ameaçado pela concorrência dos holandeses, ingleses e espanhóis. No século XVII, se já não eram os maiores traficantes de escravos do planeta, britânicos e holandeses era os que lucravam com eles. 


Eduardo Bueno Brasil uma história A incrível história de um país.
Pierre Fatumbi Verger Orixás 

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