O sujeito epistêmico
A ideia-mestra que situa o trabalho de Piaget como uma teoria da interação é a certeza de que o conhecimento está na ação do sujeito. É no resultado da ação que o sujeito identifica ou toma consciência de si próprio e assim constitui o mundo. Esse mundo se constrói, então, como tudo o que não é sujeito, ao passo que o sujeito se identifica com todas as ações e movimentos em relação ao não-sujeito. É o processo desencadeado pela ação que estrutura e, progressivamente, distingue sujeito e objeto. Em seu início, logo após o nascimento, a criança não é, ainda, sujeito de suas próprias ações, tampouco o mundo das coisas físicas e sociais, existe para ela. Por meio das coordenações de ações, classificando, organizando, comparando, o sujeito edifica não só os conteúdos do que sabe, como também as estruturas que suportam e possibilitam tais conteúdos. Com um funcionamento contínuo existe uma estruturação de esquemas e conceitos que vão progressivamente sendo superados por novos patamares de ações, cada vez mais complexos e com a propriedade de conservar e superar os patamares precedentes numa reorganização continua do sujeito. Esses patamares de ações são, num primeiro momento, apenas ações sobre os objetos para, através de um longo processo de construção se transformarem, pouco a pouco, em ações sobre as ações ou ações de segunda potência. Trata-se aí de ações operadas sobre as precedentes, nas quais o sujeito é capaz de tematizar suas próprias ações, extraindo delas as razões e motivos do seu fazer. Para Piaget, sujeito e objeto ainda não existem no nascimento, pois o sujeito não tem consciência de si, tampouco do mundo. A centralização extremada do bebê significa indiferença entre o eu e o mundo, ao passo que os movimentos em direção ao mundo repercutem no eu, de forma a constituí-lo. (Icle Gilberto, O ator xamã p.68).
Rodin Le penseur
Inferno
Canto I
A criação da Divina Comédia começou na noite de 4 para 5 de março do ano de 1300, aniversário da Paixão de Jesus Cristo, véspera da Sexta-Feira Santa. Por esse tempo achava-se Dante em Roma, no caráter de Embaixador de Florença, enviado para assistir à grande solenidade do primeiro jubileu proclamado pelo Papa Bonifácio VIII. A ocasião era a mais propícia à maravilhosa jornada, em que o Poeta consumiu sete dias, dois no Inferno, quatro no Purgatório e um no Paraíso. Era meia-noite e plenilúnio quando Dante se achou na Selva Selvaggia, trajando o hábito, o cordão e as sandálias da Ordem de S. Francisco, sobre a alvorada tocou a fronteira, que partia o mundo físico do invisível. Transviava-se Dante em uma selva tenebrosa, donde se esforça por sair subindo uma colina. Opõe-se lhe uma pantera, um leão e uma loba. Aparece-lhe Virgílio, que o convida a visitar os reinos eternos, a fim de evitar aqueles perigos, servindo-lhe de guia pelo Inferno e Purgatório, e entregando-o depois à direção de Beatriz, que o conduzirá ao Paraíso. Dante aceita.
Da nossa vida em meio da jornada
Achei-me numa selva tenebrosa
Tendo perdido a verdadeira estrada.
Dizer qual era é coisa tão penosa
Desta brava espessura a asperidade,
Que a memória a relembra inda cuidadosa.
Na morte há pouco mais de acerbidade,
Mas para o bem narrar lá deparado
De outras coisas que vi, direi verdade.
Contar não posso como tinha entrado,
Tanto sono os sentidos me tomara,
Quando hei o bom caminho abandonado....
Divina Comédia, Dante Alighieri.
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