Maria Callas as Medea
A tragédia apresenta no palco personagens e acontecimentos que camuflam, na atualidade do espetáculo, todas as aparências da existência real. No exato momento em que os espectadores os têm sob os olhos, eles sabem que os heróis trágicos não estão ali e nem poderiam estar, já que, ligados a uma época completamente terminada, pertencem, por definição, a um mundo que não existe mais, um lugar inacessível. A presença encarnada pelo ator no teatro é portanto, sempre o signo ou a máscara de uma ausência da realidade cotidiana do público. Arrastado pela ação, perturbado pelo que vê, o espectador não deixa de reconhecer que se trata de fingimentos, de simulações ilusórias, numa palavra, do mimético. Na cultura grega, a tragédia abre assim um novo espaço, o do imaginário, sentido e compreendido como tal, isto é, como uma obra humana decorrente do puro artifício. A consciência da ficção é constituinte do espetáculo dramático, ela aparece ao mesmo tempo como sua condição e seu produto.
Mito e Tragédia na Grécia Antiga pg. 162.
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