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domingo, 18 de novembro de 2018

ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO CONCEITO DE CULTURA

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No final do século XVIII  e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilisation referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo inglês Culture, que tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inlclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. Com esta definição Tylor abrangeria em uma só palavra todas as possibilidades de realização humana, além de marcar fotemente o caráter de aprendizado da cultura em oposição à ideia de aquisição inata, transmitida por mecanismo biológico.   

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O conceito de cultura, pelo menos como utilizado atualmente, foi portanto definido pela primeira vez por Tylor. Mas o que ele fez foi formalizar uma ideia que vinha crescendo na mente humana. A ideia de cultura, com efeito, estava ganhando consistência talvez mesmo antes de John Locke (1632-1704), que em 1690, ao escrever Ensaio acerca do entendimento humano, procurou demonstrar que a mente humana não é mais do que uma caixa vazia por ocasião do nascimento, dotada apenas da capacidade ilimitada de obter conhecimento, através de um processo que hoje chamamos de endocultuação. Locke refutou fortemente as ideias correntes na época, e que ainda se manifestam até hoje, de princípios ou verdades inatas impressos hereditariamente na mente humana, ao mesmo tempo em que ensaiou os homens têm princípios práticos opostos. Quem investigar cuidadosamente a história da humanidade, examinar por toda parte as várias tribos de homens e com indiferença observar as suas ações, será capaz de convencer-se de que raramente há princípios de moralidade para serem designados, ou regra de virtude para ser considerada, que não seja, em alguma parte ou outra, menosprezado e condenado pela moda geral de todas as sociedades de homens, governadas por opiniões práticas e regras de condutas  bem contrárias umas às outras. (Livro I, cap. II p. 10)

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Finalmente, com referência a John Locke, cita-se o antropólogo americano Marvin Harris (1969), que expressa bem as implicações da obra de Locke para a época. Nenhuma ordem social é baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa mudança no comportamento. Meio século depois, Jacques Turgot (1727-1781), ao escrever o seu Plano para dois discursos sobre história universal, afirmou: - Possuidor de um tesouro de signos que tem a faculdade de multiplicar infinitamente, o homem é capaz de assegurar a retenção de suas ideias eruditas, comunica-las para outros homens e transmiti-las para os seus descendentes como uma herança sempre crescente. Basta apenas a retirada da palvra erudita para que esta afirmação de Turgot possa ser considerada uma definição aceitável do conceito de cultura, embora em nenhum momento faça menção a este vocábulo. Esta definição é equivalente às que foram fomuladas, mais de um século depois, por Bronislaw Malinowski e Leslie White.

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Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), em seu Discurso sobre a origem e o estabelecimento da desigualdade entre os homens, em 1775, seguiu os passos de Locke e de Tugot ao atribuir um grande papel à educação, chegando mesmo ao exagero de acreditar que esse processo teria a possibilidade de completar a transição entre os grandes macacos, chimpanzé, gorila e orangotango, e os homens. Mais um século transcorrido desde a definição de Tylor, era de se esperar que existisse hoje um razoável acordo entre os antropólogos a respeito do conceito. Tal expectativa seria coerente com o otimismo de Kroeber, que, em 1950, escreveu que a maior realização da Antropologia na primeira metade do século XX foi a ampliação e a clarificação do conceito de cultura, Antropology, in Scientific American, 183. Mas, na verdade, as centenas de definições formuladas após Tylor serviram mais para estabelecer uma confusão do que ampliar os limites do conceito. Tanto é que, em 1973, Geert escreveu que o tema mais importate da moderna teoria antropoógica era o de diminuir a amplitude do conceito e transformá-lo num instrumento mais especializado e mais poderoso teoricamente. Em outras palavras o universo conceitual tinha atingido tal dimensão que somente com uma contração podeira ser novamente colocado dentro de uma perspectiva antropológica. 

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Em 1871, Tylor definiu cultura como sendo todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética,  como diríamos hoje. Em 1917, Kroeber acabou de romper todos os laços entre o cultural e o biológico, postulando a supemacia do primeiro em detrimento do seguno em seu artigo, hoje clássico, O superorgânco in American Antropologist, vol.XIX, n.2,1917. Completava-se, então, um processo iniciado por Lineu, que consistiu inicialmente em derrubar o homem de seu pedestal sobrenatural e colocá-lo dentro da ordem da natureza. O segundo passo deste processo, iniciado por Taylor completado por Kroeber, representou o afastamento crescente desses dois domínios, o cultural e o natural. O anjo caído foi diferenciado dos demais animais por ter a seu dispor duas notáveis propiedades, a possibilidade da comunicação oral e a de fabricação de intrumentos, capazes de tornar mais eficiente o seu aparato biológico. Mas estas duas propriedades permitem uma afirmação mais ampla. O homem é o único ser possuidor de cultura. Em suma, a nossa espécie teria conseguido, no decorrer de sua evolução, estabelecer uma distinção de gênero e não apenas de grau em relação aos demais seres vivos. Os fundadores de nossa ciência, através dessa explicação, tinham repetido a temática quase univesal dos mitos de origem, pois a maioria deste preocupa-se muito mais em explicar a separação da cultua da natureza do que com as especulações de ordem cosmogônica. 

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No período que decorreu entre Tylor e a afirmação de Kroeber, em 1950, o momento teórico que se destacava pela sua excessiva simplicidade, contruído a partir de uma visão da natureza humana, elaborada no peródo iluminista, foi destruído pelas tentativas posteriores de classificação do conceito. A reconstrução deste momento conceitual, a partir de uma diversidade de fragmentos teóricos, é uma das tarefas primordiais da antropologia moderna. 

Roque de Barros Laraia Cultura um conceito antropológico Editora Zahar p. 25.

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