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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

ENSINAR EXIGE COMPROMETIMENTO


Colunas na entrada do Instituto de Educação Flores da Cunha Porto Alegre 1936

Outro saber que devo trazer comigo e que tem que ver com quase todos os de que tenho falado é o de que não é possível exercer a atividade do magistério como se nada ocorresse conosco. Como impossível seria sairmos na chuva e não nos molhar. Não posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso escapar a apreciação dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem importância capital para o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo. Se perguntado por um aluno sobre o que é tomar distância epstemológica do objeto, lhe respondo que não sei, mas que posso vir a saber, isso não me da autoridade de quem conhece, me dá a alegria de, assumindo minha ignorância, não ter mentido. Então não ter mentido abre para mim junto aos alunos um crédito que devo preservar. Eticamente impossível teria sido dar uma resposta falsa, um palavreado qualquer. Um chute, como se diz popularmente. Mas, de um lado, precisamente porque a prática docente, sobretudo como a entendo, me coloca a possibilidade que devo estimular de perguntas várias, preciso me preparar ao máximo para, de outro, continuar sem mentir aos alunos, de outro, não ter de afirmar seguidamente que não sei. Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no cumprimento de minha tarefa  de professor, aumenta em mim os cuidados com o meu desempenho. Se minha opção é democrática, progressista, não posso ter uma prática reacionária, autoritária, elitista. Não posso discriminar o aluno em nome de nenhum motivo. A percepção que o aluno tem de mim não resulta exclusivamente de como atuo, mas também de como o luno entende como atuo. Evidentemente, não posso levar meus dias como professor a perguntar aos alunos o que acham de mim ou como me avaliam. Mas devo estar atento à leitura que fazem de minha atividade com eles. Precisamos aprender a significação de um silêncio, ou de um sorriso ou de uma retirada da sala. O tom menos cortês com que foi feita uma pergunta. Afinal, o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente lido. interpretado, escrito e reescrito.Neste sentido, quanto mais solidariedade exista entre o educador e educandos no trato deste espaço, tanto mais possibilidades de aprendizagem democrática se abrem na escola. 


A esquerda vista parcial do Colégio Estadual Júlio de Castilhos a direita Monumento a Bento Gonçalves Porto Alegre 1958 Foto Antônio Ronek 


Em 29 de junho de 1958 é inaugurada a primeira parte do novo prédio na Av. Piratini, nº 76.  O gigante de arquitetura modernista projetado por Demétrio e Enilda Ribeiro tem sua estrutura sustentada por pilares e paredes envidraçadas o que lhe confere certa leveza. O amplo saguão iluminado integra o colégio ao espaço da cidade. A mesma função cumprem as largas sacadas que se estendem ao longo dos três andares. A praça, as ruas e prédios em volta parecem fazer parte do ambiente do colégio.O próprio arquiteto referiu que ao pensar uma escola, ele deveria pensar o mundo da cultura e da produção da cultura e esta não poderia ser produzida fora da realidade, portanto as antigas escolas voltadas para dentro de seus muros e pátios como eram comuns, não serviam e que ao pensar o Julio ele disse que a Escola deveria ser voltada para fora, pois ao preparar pessoas e cidadãos eles seriam agentes de transformação e só poderiam atuar na realidade se a conhecessem e também aberta para que o mundo entrasse por suas aberturas, sacadas e janelas o que impediria que seus usuários parassem no tempo e cristalizassem suas opiniões, pois o mundo estaria na porta da sala de aula exigindo mudanças. Marion Michalski

Creio que nunca precisou o professor progressista estar tão advertido quanto hoje em face da esperteza com que a ideologia dominante insinua a neutralidade da educação. Desse ponto de vista que é reacionário, o espaço pedagógico, neutro por exelência, é aquele em que se treinam os alunos para práticas apolíticas, como se a maneira humana de estar no mundo fosse ou pudesse ser uma maneira neutra. Minha presença de professor, que não pode passar despercebida dos alunos na classe e na escola, é uma presença em si política. Enquanto presença não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos aluos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho. 

Paulo Freire Pedagogia da autonomia p. 95. 

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